AQUI, VOU-VOS CONTAR...

  AQUI, VOU-VOS CONTAR…

O tempo de chuva, neste Outono diferente, levou-me a aproveitar o dia livre de tarefas com horário, para continuar a passar em revista as minhas numerosas pastas, onde tenho guardadas as provas escritas das muitas vivências e variadas experiências, que guardo como lembrança e testemunho de um trabalho que já conta alguns/muitos anos. Tenho estado a apostar na ideia de deixar para os vindouros as minhas memórias e recordações arrumadas e, criteriosamente, escolhidas, sabendo que nem tudo o que se passou interessa. Ao mesmo tempo, guardar aquilo que poderá ficar como exemplo de vida ou estímulo. Não sou saudosista, mas acho importante rever o que foi, para garantir uma paz de espírito na certeza de um dever bem cumprido.

Os livros que escrevo têm o mesmo papel, memórias guardadas, num processo que me tem servido para me organizar mental e emocionalmente, com o espírito sintonizado com as altas esferas. Nesta senda, encontrei uma série de cartas - no tempo em que nos correspondíamos por carta/papel - de uma aluna muito especial. Especial porque a nossa relação de amizade começou de forma inesperada e surpreendente. Eu vou-vos, aqui, contar…

Houve um tempo em que dava as aulas de yoga, para além do Centro, numa dependência do Ministério da Educação e foi aí que conheci uma senhora muito simpática, que frequentou as sessões durante um tempo, pouco! Passados uns meses, outra aluna veio falar comigo para me dar um recado da tal aluna. Então explicou que ela tinha deixado de vir às aulas por ter tido um grave AVC e, estando a começar a recuperação, apesar da dificuldade em falar, pedia para me telefonar, pois gostaria de manter contacto comigo. Admirada, lá lhe dei o número, um pouco preocupada, sem saber como iria decorrer essa conversa. A verdade é que, um dia, recebi mesmo a tal chamada, percebendo com alguma dificuldade o que dizia, mas, ao mesmo tempo, sensibilizada e emocionada com aquela demonstração de apreço. Sabemos nós que há ligações que não se explicam e, o certo é que, a partir desse dia, trocadas as moradas, passámos a alimentar o afecto pela escrita. Aniversários e Natais festejados à distância com imenso carinho, respeito e admiração, pois a sua evolução na recuperação foi-se notando nas letras e nas manifestações afectivas.

Infelizmente nunca a consegui visitar, pois foi viver para a sua terra natal, um bocado distante. Não posso precisar o tempo que esse "namoro" durou, mas um dia, estranhando a falta de notícias, liguei-lhe e respondeu-me a filha, dizendo que, infelizmente, a mãe tinha partido em paz! Foi um grande choque e, desde então, continuo a ter aquele número na minha lista de contactos, mantendo-me sintonizada com aquela alma amiga.

Uma lição de vida, demonstrando, como os gestos e as palavras são magnífica expressão do nosso sentir mais profundo e que as relações amorosas podem ser platónicas e bem verdadeiras. Grata pela oportunidade de viver estas experiências e continuar a acreditar que há mais mundo para além de nós!

       

         OM SHANTI OM



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