ENCONTROS IMEDIATOS
Começámos o dia pela visita a dois templos. O primeiro tinha um tanque com água, dita sagrada, e mal entrámos aproximou-se de nós um sacerdote oferecendo-se para nos fazer umas rezas e ungir-nos à custa de uma quantas rupias. À saída colocou-nos uma pinta vermelha na testa, acompanhada De outro pedido de rupias... O segundo templo era menos primitivo, não tinha tanque e como trazíamos a pinta na testa ficámos isentos do peditório.
Pelo caminho visitámos o Ashram do Suami Sivananda e lá fomos atendidos por uma senhora muito simpática que nos deu o programa das actividades. Tínhamos que organizar bem as nossas visitas para não andarmos sempre de táxi o que fugia ao nosso curto orçamento. Curiosamente, o táxi, de vez em quando parava numa espécie de portagem e conseguimos perceber que passava por caminhos particulares e os donos teriam de ser informados das intenções dos viajantes. Quando chegámos ao hotel fomos abordados por um indiano bem parecido e bem falante na língua de Shakspeare, coisa rara por aquelas bandas. O engraçado é ele ter percebido que éramos portugueses! O homem tinha vivido em Goa, sabia o suficiente de português para perceber que língua falávamos. Normalmente, uma coisa que intrigava as pessoas, que fomos conhecendo, era entender de que terra éramos pois estavam mais habituados a francês, italiano ou espanhol. A nós dava-nos um certo gozo não pescarem nada do que dizíamos...
O velhote queria, por força, ser o nosso guia na visita aos yoguis da montanha e acabámos por fazer um acordo com ele. À hora do almoço, a minha amiga saiu para ir ao outro lado da ponte comprar fruta e o guia fez questão de a acompanhar com o seu chapéu de chuva que servia também para o Sol. Depois do almoço partimos para um memorável passeio à montanha, no meio da floresta. O tempo ameaçava chuva e ainda apanhámos uns pingos pelo caminho. É bom não esquecer que a monção ainda não tinha acabado a sua época. O senhor Singh, assim se chamava o nosso guia, lá foi dando explicações sobre as diversas árvores daquela floresta bastante densa. A meio da subida, atravessámos um mangueiral que, segundo o amigo Singh, tinha para cima de cem variedades de mangas e, eu cheia de pena que não fosse o tempo delas para matar saudades da minha terra natal, Angola. Chegados a um templo novo dum qualquer suami que estava na América, como não podia deixar de ser... sentámo-nos num muro a ver a bela paisagem e a descansar da subida íngreme. Eis senão quando, o sr. Singh agarra numa perna da minha amiga e diz que vai dar-lhe uma massagem Shiatsu. Perna acima, perna abaixo, cada vez mais para cima... e o marido sem tirar de lá os olhos!!! Seguiu-se a massagem do corpo pelo sistema de apalpões sistemáticos e nem o peito escapou à função. Eu estava com uma vontade louca de rir, ela com um ar preocupadíssimo por causa do marido e o homem não desarmava e ainda dizia que sem roupa e com óleo a massagem teria sido mais eficaz.... Por fim, virou-se para mim que, entretanto já tinha tirado as meias e os sapatos para ver se ele se contentava com os pés e as pernas, mas não tive sorte nenhuma... perna acima até à virilha. Foi um momento, ao mesmo tempo cómico e embaraçoso, apesar do senhor ter um aspecto respeitável e ser um óptimo massagista, com umas mão fantásticas. Valeu-nos a chuva que fez a sua aparição na hora “H” e lá nos pusemos a caminho da montanha. A chuva passou de moderada a torrencial e, quando chegámos a uma casa muito tosca, já íamos feitos uns pintos. A casa era de um dos tais yoguis da montanha que, mal nos viu, foi a correr vestir uma túnica cor de laranja por cima da tanga que trazia vestida; com ele estava um rapazinho vestido com roupas normais.
O nosso guia mandou-nos entrar e sentar numa esteira. A casa era um simples alpendre com vista para o vale, tapada com panos por causa da chuva que continuava a cair a potes. O yogui tirou um dos panos para deixar entrar mais luz e sentou-se de costas para a janela. Ele queria que ficássemos de frente para ele, ou seja, com a luz a dar nas nossas caras; nós mal víamos a cara dele, mas sentíamos a sua presença duma forma intensa. Iniciámos um diálogo, com a ajuda do guia, ficando a saber que vivia ali há dezoito anos e só de lá saía para se encontrar com algum colega. O mestre dele tinha morrido sete anos atrás com quase 90 anos. Passava os dias em meditação, passeava pela floresta, estudava as escrituras e ensinava os seus discípulos. A ideia que ele me dava era a de um Cristo vestido de cor de laranja. O guia explicou-nos que ele não recebia qualquer pessoa e que quem ele não achasse digno mandava logo embora, daí querer examinar-nos à luz pois, segundo o sr. Singh ele tinha muita facilidade em julgar rapidamente quem o visitava e algumas pessoas não eram bem intencionadas. Felizmente passámos no exame, de tal maneira que além de nos oferecer chá, nos convidou para lá passarmos a noite, caso chuva não parasse, prometendo, inclusivamente, cozinhar para nós!!! Devo confessar que a ideia não nos entusiasmou por aí além...
Já passava das seis e meia quando a chuva parou e nos preparámos para regressar, antes que escurecesse totalmente. Nestas zonas não há crepúsculo, por isso, a noite cai quase de repente. Deixei como oferta duas peças de fruta que coloquei no altar onde estava a fotografia do mestre dele. Depois de manifestarmos efusivamente os nossos agradecimentos pela hospitalidade, começámos o caminho de volta ao hotel, montanha abaixo. Chegámos, já noite escura, sãos e salvos de encontros com cobras e bostas de vaca que proliferavam na área e feita a travessia da ponte suspensa que abanava bastante com o vento que fazia. Banho, jantar e cama que era o que estávamos a pedir depois dum dia tão emocionante.
Fiquem bem!
Comentários
Tomar contacto com uma massagem de shiatsu pela primeira vez neste contexto, local, massagista, entre uma caminhada pela montanha e o encontro com um mestre de ioga à séria, etc... é uma benção, no mínimo!!!Caramba!!!
beijos