VANTAGENS

 

VANTAGENS

Ao olhar para a minha vida, sinto que é bom fazer um apanhado de algumas experiências e referir as vantagens que sempre tive quando era necessário resolver problemas ou enfrentar desafios, para além dos obstáculos que a própria vida nos vai oferecendo, como meio de autoconhecimento ou para fortalecer uma vontade e uma resiliência.

Todos nascemos com uma condição, uma circunstância, ou o momento que definirá a sequência de uma existência, e pressupõe no processo evolutivo, uma necessidade de nos servirmos do que temos à mão, sejam as ajudas ou as qualidades, numa sequência de interesses dos progenitores que nos geraram ou porque o destino assim previa, como forma de se completarem as tarefas agendadas, e  ganhar uma oportunidade para conhecer um mundo feito de matéria densa, que temos de pisar, e conseguir vir a acreditar valer a pena experimentar viver de acordo com as tais condições e vantagens proporcionadas.

Tive a sorte de ter nascido em África e a minha infância ser alegre, livre e feliz, numa família disponível e inteligente o suficiente, para nos formarmos como adultos conscientes e produtivos. O tempo que durou essa permanência foi aquela que me permitiu chegar, à chamada idade da razão, gozando os privilégios que aquela condição me proporcionou. O convívio com a malta da minha idade e a estudar numa escola mista, deram-me a experiência de viver relações de amizade inesquecíveis, e que me alimentaram a confiança, e determinação só possível naquelas condições e com as ditas vantagens. A infância marca-nos definitivamente, pois é nessa altura que estamos em condições para receber as informações e acolher os conhecimentos necessários, que nos permitam sobreviver e fazer um caminho que foi preparado ou escolhido. Essas marcas indeléveis tornam-se na nossa imagem de marca, que vamos temperando ou burilando à medida que a vida avança e nos leva a enfrentar um mundo que desconhecemos, mesmo que esteja à nossa frente.

Apesar de ter sido uma rapariga, tipo maria rapaz, que saía de casa para a escola de bicicleta, não deixava de ser um pouco reservada, aparentemente tímida, mas pronta para o que der e vier! Acho que sempre tive a noção da importância de saber que na minha vida quem manda sou eu, e que a liberdade com responsabilidade, me deu a vantagem de fazer sempre tudo a que tinha “direito”! O sentir, de que falo tantas vezes, foi a minha forma ideal para seguir em frente e concretizar as acções adequadas às circunstâncias e avançar com os projectos adequados ou circunstanciais. Liberdade com responsabilidade foi o tema básico proposto pelos meus pais, sabendo da importância de agir com os cuidados necessários, para que o resultado dessas acções fossem satisfatórios para ambas as partes, ou com uma consequência feliz!

A minha escolaridade não foi além do liceu e mais o estudo de inglês feito em Londres, por não sentir nenhum apelo especial em sentido de formação académica e comecei por trabalhar como auxiliar de educação de crianças numa escola inglesa, o Queen Elisabeth School, em Lisboa. Não foi das experiências mais felizes, que acabou e me levou a passar para um colégio particular a ensinar inglês às meninas. Essa escola era dentro duma quinta e foi um tempo mais simpático, até me casar e ir para Goa e Diu, onde vivemos até eu ficar grávida do meu primeiro filho e ter de regressar a Lisboa, por não ter as condições necessárias para o parto e o meu marido embarcado, não estar sempre em terra.

O tempo que passei na Índia foi bastante especial e deu-me a conhecer uma cultura e uma existência particular bem diferente daquela a que estava habituada. A juventude e o amor que vivíamos era suficiente para enfrentar todas as condições a que estivemos sujeitos, uma vez que estávamos em guerra com a União Indiana e tínhamos que nos ir adaptando às condições oferecidas em termos de habitação, que agora não dá para contar. África, Índia, Inglaterra e Portugal foram os campos onde me formei como a pessoa que sou, e me deram a capacidade para me relacionar com tudo e com todos, com a vantagem de melhor conhecer aqueles com quem tenho de me relacionar, de maneira a que esses encontros sejam satisfatórios para ambas as partes e possam ampliar o meu autoconhecimento, e a dar forma ao ser que sou, inteiro e pacificado, dentro daquilo que está ao meu alcance, e possa proporcionar alegria e bem-estar no seio onde me encontro inserida.


               OM SHANTI OM

                   


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