REBUSCANDO... SABOREANDO


A partilha sempre fez parte do meu "sentir", uma vez que todos pertencemos a um grupo de almas que se vai encontrando nesta passagem pela Terra. Hoje propus ao meu cunhado José Manuel mostrar aqui um dos seus numerosos textos que ele nos passa e de que gostamos muito, pela forma como a sua escrita se faz poesia, reflexo das suas muitas memórias e vivências.  Bem que lhe sugeri criar o seu "Blog", mas como  não se sentiu inclinado para essa aventura, lembrei-me então de ser eu a mostrar o seu talento... 

Fiquem bem!         


Será já a Saudade        

Hoje de forma recorrente e, cada vez mais frequentemente, acalento no meu coração a dor da saudade fruto do desencanto que se vai apropriando da minha força de viver, encharcando o meu ser. Dou por mim vagueando sem pensamentos que de imediato tento corrigir apelando à memória qual momento próximo, qual provocação ou de qualquer acção que se desenrole à minha volta e me retire do sufoco que me atinge.

É o pé que arrasta no chão, é a dor na perna tolhendo o andar, é o zumbido no ouvido distraindo a atenção do caminho que vou percorrendo, é a dorzinha no peito, enfim mil queixumes e dou então pela falta do barulho de alguma criança, por perto, brincando ou de qualquer outro ruído, saudosamente familiar, que se sobreponha ao monótono som da cidade envolta no seu barulho frio, amorfo e incaracterístico.

O dia vai minguando lentamente qual pôr-do-sol envergonhado.

Já molhei os pés no Oceano Atlântico, Índico, Pacífico e no Mar Mediterrâneo, Báltico e do Norte, naveguei pelo Canal de Kiel e apreciei o Sol da meia-noite, a norte da Dinamarca. Saboreei Auroras verdadeiros monumentos da natureza e enchi o peito de ar com crepúsculos celestiais, de cor e paz, inolvidáveis.

Desgostos, dores, desencontros e contrariedades também as sofri e igualmente as registei, tudo se aglutinando e compondo a sinfonia de uma vida familiar luminosa, efervescente plena de amor e ternura a par de uma vida profissional cumprida no respeito e dedicação preenchendo e colmatando quaisquer frinchas ou rachaduras no nosso espaço.

Conforme vou caminhando, e saboreando o que me rodeia, por vezes despertam em mim as lengalengas cantadas dum saudoso choro das carpideiras que, agora, por vezes, são entrecortadas com o som dolente, compassado e apaixonado, de suaves notas soltas, entoadas por um qualquer talentoso saxofonista, e de novo me sinto invadido por aquele torpor de abandono manso que num crescendo dentro do meu ser toma conta de mim e do meu dia.

Abrando o passo, respiro fundo e procuro um novo tema, uma memória, qualquer, que me traga de novo “ao caminho” e me desperte dessa letargia que teima em me consumir.

Apesar de tudo espero continuar, teimosamente, a escrever a minha canção, junto daquela que tem sido a felicidade e esteio da minha vida, ao longo de já cinquenta e cinco anos:- Uma pessoa extraordinária que merece tudo de bom.

          

 

12JUN18


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