MEMÓRIAS
MEMÓRIAS
E a minha mãe presente…
Agora que tenho mais tempo para meditar, com
períodos de introspecção, o meu subconsciente acorda algumas memórias que
despertam em mim sensações e se manifestam sob a forma de sonhos encantados,
pelo que acabam por me mostrar a necessidade de os concretizar aqui e agora.
Não sou propriamente saudosista, pois as recordações me deixam apenas a memória
de momentos vividos com intensidade e muito prazer, para além de sentir que
deixam o seu rasto, a sua pegada e o seu sentido.
Chego a rever memórias de infância, que me
mostram a natureza que é a minha imagem de marca, mesmo quando essa imagem me
parece exagerada ou fora de contexto. Penso que, ao longo da vida, vamos
reproduzindo sensações que espelham o muito daquilo que foi impresso em nós,
quando as nossas defesas ainda não eram consistentes. Sempre que alguma coisa
me provoca um sentimento mais profundo, fico curiosa em perceber onde nasceu
essa razão de ser. Como gosto de entender os porquês dessas situações, ando com
o “filme” para trás para ir ao encontro daquele outro momento em que aquela
manifestação terá acontecido, descobrindo facilmente e encontrando a razão para
aquele sentir, que tanta estranheza ou admiração me causou.
O engraçado é que algumas lembranças surgem
em circunstâncias inesperadas e acabam por ser surpreendentes e por se
mostrarem como sinais. Outro dia, em conversa com os trabalhadores que se
encontravam em minha casa a fazer uma obra, perante a circunstância de ver que
estavam a dar tudo por tudo para a acabar, veio-me ao de cima o meu habitual
sentimento maternal e ofereci-me para lhes servir uma sandes e uma cerveja. A
cerveja, aceitaram, porque estava muito calor e foi então que me veio à memória
um diálogo que tinha tido com a minha mãe, era eu bastante pequena. Tinha eu estado
a visitar uma vizinha, que havia sido mãe há pouco tempo, - coisa habitual,
visto gostar muito de bebés - e, por essa razão, cheguei tarde a casa, o que
não agradou particularmente à minha progenitora que, ao mesmo tempo,
questionava o meu instinto maternal fora de horas… Como sou repentina em
manifestar emoções, disse-lhe: “Um dia vou ter mil
filhos!!!”. Essas palavras foram uma premonição do que seria a minha vida, pois,
além de ter tido quatro filhos e, actualmente, nove netos, fui formando à minha
volta o que eu chamo os filhos que me foram caindo no colo, através do yoga.
São os filhos do coração, a quem dedico quase a mesma atenção que dediquei e
dedico aos meus!
A forma como trabalho nesta missão tão
transcendente, é a mesma que apliquei na tarefa difícil e fantástica que é ser
mãe, sabendo como é duro esse projecto, em que os filhos não são,
verdadeiramente, nossos filhos, mas filhos da própria vida. São eles mesmos que
nos ajudam a ir à descoberta do seu ser e do seu estar. Cada pessoa é uma carta
fechada que vamos abrindo, passo a passo, com as cautelas de quem merece
respeito, mas que precisa de uma oportunidade para se mostrar e nos mostrar. Uma
viagem que nos leva ao encontro da alma que se esconde por detrás das
aparências, construídas com as vivências próprias de quem vive na matéria e se
disponibiliza a ir à descoberta do seu verdadeiro Ser e num estar que lhe permita encontrar as ferramentas adequadas a essas
acções, por demais exigentes e envoltas num certo mistério. Cheguei aos oitenta
anos, cumprindo o melhor que pude e sei, garantindo aos que me têm acompanhado
nesta senda do Yoga – já lá vão mais de quarenta, sendo trinta e seis os deste
espaço de encontro, onde cada um se arrisca a participar nesta grande aventura
que é a VIDA!!! Agradeço uma vez mais aos meus deuses e seus representantes na
terra, a oportunidade de viver cada momento, cada emoção como se soubesse que é
bom pertencer a um grupo de almas tão sinceras e generosas e de sentimentos à
flor da pele…
OM SHANTI OM
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