INTOLERÂNCIA E REJEIÇÃO

 

INTOLERÂNCIA E REJEIÇÃO

In “O CAMINHO DA SABEDORIA” (2004)

 

As emoções descontroladas provocam situações de intolerância e geram conflitos difíceis de apaziguar. Sabemos que a individualidade pode redundar em egocentrismo pois a preocupação exagerada com o EU faz de nós seres pouco pacíficos e pacificadores. Basta que alguma coisa nos desagrade para que dispare a sensação de rejeição e esta surge, então, sob a capa da intolerância. A discordância de opinião é uma coisa vulgar, uns gostam de preto outros gostam de branco, e essa discordância pode ser saudável pois desenvolve as ideias e estimula as vontades. Onde estão duas pessoas estão duas opiniões. O problema reside no exercício das vontades sem ter em conta o outro lado, sem dar espaço ao outro para ser e sentir. A sociedade actual está minada por vontades que saltam à mínima contrariedade. A falta de satisfação é uma constante na vida das pessoas apesar da imensa oferta no campo do prazer dos sentidos. As distracções são muitas e de vária ordem, umas agradáveis outras nem por isso. Andamos a correr para cumprir horários. Andamos a correr para satisfazer necessidades que nos parecem imperiosas. Andamos a correr como baratas tontas em busca de uma felicidade que pensamos estar ali, ao alcance do olhar ansioso. Andamos a correr porque não conseguimos estar muito tempo no mesmo lugar, a fazer a mesma coisa, integrados num espaço e num tempo. Nesta corrida louca ficamos ofegantes e cansados ainda que, momentaneamente, satisfeitos.

Olhar o céu e ver as nuvens tomarem as mais diversas formas, olhar as árvores e ouvir o canto dos pássaros que se escondem na folhagem, é uma prática que nos escapa com frequência. “Temos sempre tanto que fazer!... Nunca nada está feito ou pronto!... Meu Deus, como estou cansada de não conseguir parar, sem que a culpa da preguiça me apanhe desprevenida.” O cansaço apodera-se de nós e percorre os caminhos do corpo, insidiosamente. Dói-nos a cabeça, doem-nos as costas e não encontramos senão razões externas para estes fenómenos. Fugimos constantemente ao cerne da questão. Não nos apetece parar para pensar, para verdadeiramente sentir o que o corpo nos quer dizer. Temos medo que a vida nos rejeite. Temos medo da intolerância alheia. Se pararmos podemos ficar para trás, enquanto os outros avançam como corredores para uma meta. Temos medo da intolerância alheia porque a solidão nos assusta como crianças em quarto escuro. As emoções saltam como chispas em lume recém-acendido, estalam os gostos e os des-gostos como foguetes anunciando uma festa que é só nossa. Ficamos a olhar o belo efeito, mas no fim ainda nos caem as canas em cima!

Somos intolerantes porque não estamos seguros, nem suficientemente centrados para agir de forma adequada e justa. Assumimos uma posição de ataque que faz brotar das entranhas a agressividade própria de quem anima as suas defesas. Mais vale atacar, pois o ataque é a melhor defesa, um instinto inevitável que joga com a primordialidade da natureza. O peito cresce, aguça-se o olhar para não perder de vista o inimigo ou, então, procuram-se outras estratégias mais eficazes. Isto, para dizer que somos vítimas da intolerância e suportamos a rejeição com a mesma intensidade com que não toleramos e rejeitamos os demais. Tudo demasiado atávico e difícil de controlar, apesar das aparências. Sentimos desconforto em presença daqueles que são, ou se tornaram incompatíveis com a nossa maneira de ser e de estar. Deixamo-nos tomar por esse desconforto assumindo o papel de vítimas, sem perceber quem é o atacante. Não percebemos porque não estamos prevenidos, não estamos conscientes ao ponto de sentir a diferença. Somos, muitas vezes, apanhados de surpresa porque descuramos as nossas próprias defesas ou porque é mesmo assim... As sensações desagradáveis que os outros nos provocam são lições de vida. Obrigam-nos a descobrir novos caminhos. Obrigam-nos a estudar os comportamentos humanos com alguma distância e uma boa dose de humildade, recorrendo a um estado de Amor incondicional pois só nesse estado é possível ultrapassar as intolerâncias e as rejeições, alterando os ambientes ou tomando providências. Só podemos lutar com as armas que temos. Esgotado o engenho o melhor é buscar refúgio sem deixar rasto de mágoa ou perceber o caminho que melhor nos serve, reagindo com maturidade e desapego.  Uma posição firme e suave é sempre um bom prenúncio para ver o problema resolvido. As emoções são água que inunda as terras deixando aluviões que o Sol enriquecerá. Tudo se transforma!

Façamos silêncio interior, buscando a paz nos nossos corações. Estaremos, assim, prontos para amar sem medo de rejeições. O amor é sempre o melhor remédio e não tem efeitos secundários para além dos desejáveis. Que mais podemos desejar?...



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