A SAGA CONTINUA

As mil e uma Vidas que vos prometi contar, seguem agora com a minha ida para Moçambique onde pretendia passar uma temporada com o meu marido que, nessa altura, estava embarcado numa fragata. Como pensava ter uma estadia relativamente curta, agarrei em dois dos meus filhos (o 2º e a 4ª, ainda bebé) e meti-me num navio de passageiros que era a única maneira de conseguir lá chegar sem despender muito dinheiro que, como sabem, não abundava. A viagem durou cerca de 20 dias e, quando atracamos na, então chamada, cidade de Lourenço Marques, tivemos a notícia de que a guerra tinha rebentado também naquela terra longínqua. Passava-se isto em 1964, três anos depois do mesmo ter sucedido em Angola. Não fiquei muito assustada pois informaram-nos de que os problemas se passavam no norte. Outra novidade que fui encontrar, tem a ver com o facto do meu marido me dizer que iríamos ficar numa casa que ele havia alugado pois a ideia de irmos para uma Residencial com duas crianças não lhe parecia cómodo nem agradável. Habituada como estava a adaptar-me a todas as circunstâncias, não tugi nem mugi... E lá nos instalámos num 3º andar com meia dúzia de tarecos que uns primos meus nos emprestaram. Meia dúzia, se calhar, até é contar por cima, porque o que tínhamos era: uma cama, um colchão, uma cama de campanha onde o meu filho dormia, um parque que servia de cama à pequenina, uma mesa quadrada e um sofá que vieram do consultório do Pai da minha prima, um pequeno fogão (não me lembro se era a gás ou a petróleo) e um frigorifico que não funcionava e que, por essa razão, passou a servir de armário de cozinha. Pratos, talheres, panelas e restante enxoval, tivemos nós de comprar. Como podem ver o palácio não dava para dar nas vistas nem aparecer nas revistas cor-de-rosa!
A estadia era para ser só de dois meses, o tempo em que o navio patrulha permanecia na cidade, mas acabámos por ir ficando com a perspectiva do meu marido conseguir passar para terra e podermos mandar vir o resto da família que tinha ficado com s meus Pais em Lisboa. Consegui manter um certo espírito guerreiro com a ajuda dos primos que conheci e com quem nos demos muito bem. Se lhes disser que quando ficava sozinha com as crianças, tinha medo, não se admirem. Acho que foi aí que o meu sistema nervoso começou a abalar... No entanto, posso dizer que passámos também um bom tempo, tirando partido da convivência com outras famílias que estavam em circunstâncias semelhantes. Não sou uma pessoa muito social, mas a vida em África a ela nos obriga, pelo clima e as facilidades aí encontradas.
A passagem para um posto em terra, permitiu-nos reunir a família. A minha sogra fez-nos o favor de se meter no navio com os meus outros filhos e lá nos reunimos todos uma vez mais. Ela ainda nos fez companhia durante uns meses até que achou que o seu lugar era em Lisboa.
O tempo que passámos a seguir, foi um tempo mais confortável, mais normal, mas isso vos contarei no próximo encontro aqui.
Fiquem bem!

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