IMPRESSÕES
IMPRESSÕES
"Não passe um dia, viva um dia!"
Relato
sobre um dos primeiros cursos de yoga fora de Portugal, nos primórdios da minha
aventura de vida inesperada e transcendente, que começou com a primeira aula no
GCP, em Janeiro de 1974 e sabendo da importância de aprender mais, para melhor
passar a ideia às classes que se íam formando. Era um tempo do chamado PREC,
aproveitando a liberdade recém-conquistada, mas sujeita a percalços próprios da
situação que estávamos a viver. Para esta viagem tivemos de convencer a família
da sua importância e segurança, visto que em Portugal não havia nada do género.
Sempre
tive o hábito de registar impressões, por isso, aqui vos apresento o relato de como
correu o nosso primeiro curso de yoga no País de Gales.
Curso em Cardiff - Agosto de 1977
Depois de uma tormentosa e longa viagem, chegámos a Duffryn House
com cerca de cinco horas de atraso. Fomos logo surpreendidas, a minha amiga e
eu, pela beleza do local. Um parque lindíssimo e um palácio medieval que nos
deixou quase sem respiração. No entanto, merecemos esta recompensa, depois do
que passámos para lá chegar…
O grupo que nos esperava, estava em "tea-break", por
isso a recepção foi calorosa - a verdade é que fomos praticamente assaltadas, principalmente,
por um grandalhão que, ao longo dos dias, acabou por ser nosso companheiro em
todas as refeições. Depois do cházinho, que nos soube muito bem, seguimos para
a sala de aula. Não pudemos participar totalmente visto não termos tido tempo
de nos vestir adequadamente. De qualquer modo, participámos o mais activamente
possível, quer nas posturas quer no tomar de algumas notas. As primeiras
impressões foram excelentes e o Dr. Dasarathy, encheu-nos logo as medidas, ou
seja, houve empatia imediata.
A sala era pequena e as pessoas estavam sentadas em semicírculo. O
mestre começou por explicar o que iria fazer, para que zona do corpo se
destinavam as posturas e, em seguida, exemplificou com maestria. Formaram-se
dois grupos e o primeiro repetia sob a direcção dele. Apesar de estarmos muito
cansadas, conseguimos acompanhar com relativa facilidade tudo o que foi feito.
Ênfase no ritmo e na respiração e lá cumprimos com disciplina o que foi
proposto até às seis da tarde. Tomado um bom banho no quarto pequeno, mas
simpático e com uma vista para um prado onde pastavam vaquinhas. O jantar
simples foi seguido de passagem de slides, acompanhados da respectiva
explicação. A cair de podre fomos para a cama, pois não dormíamos há mais de 24
horas!
No dia seguinte, começámos com um pequeno passeio em silêncio e,
como o parque era grande e lindo de morrer, cada um ia por onde lhe apetecia,
absorvendo o ar puro e toda aquela maravilha de paz e limpeza. Vi o primeiro
esquilo a primeira lebre e fomos para dentro continuando os trabalhos até ao
pequeno almoço, à inglesa, bem aproveitado por todos! Nos intervalos, fomos
tendo contacto com os colegas e trocar impressões, dando uma vista de olhos
pelos livros à disposição.
Uns dias depois, tive o momento mais alto do curso, durante a
prática de uma postura própria para meditar. Logo que me comecei a concentrar
na respiração, esta começou a ganhar velocidade e o fluxo energético a subir
por mim acima. Toda a parte superior do tronco parecia ligada à corrente e as
batidas do coração eram fortes, mas muito espaçadas e as mãos transpiravam.
Sentia-me leve, feliz, quase em transe. A minha amiga ficou preocupada, pois
ouvia a minha respiração acelerada. Quando saí da posição, com alguma dificuldade,
as mãos tremiam e estavam molhadas. Vontade de chorar e uma tremenda emoção, à
qual o mestre se mostrou agradavelmente surpreendido com a minha experiência.
Depois deste acontecimento virou-se uma página da minha vida, para
entrar num capítulo que me entusiasmava e assustava, por o saber difícil e
cheio de escolhos. Aliás, aquela semana foi cheia de experiências vivificantes
e o nosso grupo era bastante homogéneo e dava para trabalhar ao máximo. Tudo
gravado na minha memória e no meu coração!!!
A vida vive-se melhor quando sentimos que podemos gerir o nosso
potencial e sabemos ter à disposição a energia criativa que nos permite ser e
estar em harmonia, na relação corpo/mente, através da meditação.
Lembrar estas impressões, faz-me sentir confortável nesta etapa de
pausa em que as memórias são apenas retratos duma existência vivida em pleno e
a procurar estar em plenitude, saboreando os momentos que se apresentem a cada
passo, sem questionar e a aceitar o que a vida tem para oferecer…
️
Comentários