MOMENTOS
MOMENTOS
Ficará para sempre na minha memória um momento muito especial em que senti com grande profundidade o amor na relação mãe e filha, que há muito está bem estabelecido! O Natal é sempre uma ocasião para isso salientar, vindo ao de cima as emoções e os rituais que nesta quadra têm particular significado. Desde tempos remotos, o cerimonial da confeccção das filhós natalícias (mais conhecidos, por “coscorões”) foi estabelecido ao partilhar esta acção com uma senhora que me vinha ajudar, com quem tinha uma relacção de amizade, que durou para a vida. As conversas que se iam desenrolando enchiam a cozinha duma energia alegre, de um conforto que aquele simples acto pode provocar. Quando essa amiga emigrou para o Brasil, ficou a minha filha a tomar o seu lugar, e passou a ser um hábito que prezamos que traz ao de cima a noção de união familiar numa tranquilidade, que defino como macia! São estes momentos que nos fazem sentir segurança e um gosto que está para além daquela função caseira, que nos permite deixar fluir a troca de impressões que, no dia-a-dia não são tão oportunas. Curiosamente, todos os anos recebemos uma chamada do Brasil em cima desta ocasião, lembrando os tempos em que a presença marcava, e essa coincidência vem fortalecer ainda mais, os laços há muito estabelecidos. Agora é a filha que assumiu esse papel, quando a sua mãe que, quase chegou aos cem anos, e nos deixou.
Este ano, por algum motivo, ou porque a idade me vai dando alguns sinais, estou particularmente sensível e bastante emotiva, fazendo com que cada momento se torne bastante importante, deixando aquela sensação de que o que vale mesmo é o amor, e que para que ele se mantenha vivo é preciso aproveitar as oportunidades em que seja possível a sua manifestação, na maior simplicidade, com um calor que nos conforta e alegra. O resultado fica à vista, e o prazer que estes momentos proporcionam não têm preço! O Natal, trás ao de cima muitas memórias, com as muitas saudades dos que partiram ou dos que, por algum motivo, saíram do nosso círculo afectivo. A vida aproxima e afasta as pessoas, temos de nos conformar e aceitar que esses contactos já não fazem parte do nosso processo evolutivo, sendo fundamental continuarmos abertos a que novas relações se estabeleçam, prontos e disponíveis para ir à descoberta de outros mundos, outras ideias. Quando temos a oportunidade de ter uma conversa mais intimista, com alguém que conhecemos socialmente, acabamos por sentir que, afinal, não nos conhecíamos assim tão bem, e que quando a troca de impressões vai fluindo, descobrimos aspectos que, dantes, não se tinham manifestado, passando a conhecer aquela pessoa mais em profundidade. O acto social é agradável, mas é preciso ir mais além, ao encontro do ser e do estar de quem se apresenta naquele momento que, à partida, não tinha outra intenção senão estabelecer um encontro, sem particular significado ou oportunidade.
Como acabei de afirmar, este ano estou especialmente emotiva, a dar muita importância aos meus sentires ocasionais, sem deixar passar esses momentos, dando-lhes especial atenção, pois é a maneira de me garantir uma tranquilidade estabelecida pela aceitação de que as emoções fazem parte deste filme que é a vida, que nos diz que o que vale mesmo é estar inteira em cada situação e aproveitar o que se me oferece, para continuar a manter uma atitude em que a gratidão tem o papel principal. Fazer filhós no Natal ou ter uma conversa mais séria com um amigo, é sempre uma ocasião para acordar em mim a vontade de saborear esses momentos inesquecíveis, passando a ser demasiadamente valiosos para não ficarem guardados no coração.
BOAS FESTAS!!!
OM SHANTI OM
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