A TRAVESSIA NO TEMPO E NO ESPAÇO

A TRAVESSIA NO ESPAÇO E NO TEMPO


Uma pessoa nunca pode prever o que lhe vai acontecer e, se acreditarmos em Karma ou Destino, é certo e sabido que vamos fazer o que estava escrito nas estrelas. Por um lado é bom que se guarde algum mistério, senão, a vida ficaria bastante desinteressante. O que temos de viver e experimentar faz parte do mapa da nossa existência. O livre arbítrio é o que se nos oferece para que usemos escolher a forma como fazemos o nosso Caminho. Tudo isto para dizer que não me passava pela cabeça ir parar a Goa e, na verdade, foi exactamente isso que me aconteceu! Eu conto...
O meu namorado lá partiu, com grande pena
minha/dele. Mantivemos contacto regular através de longas missivas onde registávamos as “conversas” possíveis. Não havia telemóveis e, mesmo os telefones não funcionavam com a ligeireza de agora. Assentar no papel as emoções e os sentimentos, qual diário, fez com que permanecêssemos unidos no espaço e no tempo. Faltava o toque e som das palavras vivas, mas nem tudo se perdeu. Quando penso nestas coisas, vem-me à lembrança a ideia de que o tempo, realmente, não existe e que a separação física é um mero condicionamento que se ultrapassa com a força do pensamento e, sobretudo, do Amor.
A certa altura, talvez ao fim de um ano, numa dessas missivas vinha uma proposta: “E se eu ficasse na Índia outra comissão e tu viesses cá ter?...” Grande surpresa e grande excitação! Confesso que não me lembro muito bem de como passei aos meus Pais a mensagem, mas duma coisa estou certa, eles não devem ter achado graça nenhuma à ideia e, talvez, até pensassem que era coisa de adolescentes apaixonados. Curiosamente, nunca falei com eles sobre o assunto, mas, agora, que sou Mãe e Avó, posso imaginar o susto que apanharam e a tristeza que devem ter sentido com a perspectiva de uma nova separação. Podiam ter-me impedido de seguir o impulso de aceitar a proposta pois eu ainda era menor de idade (nesse tempo só se atingia a maioridade aos 21 anos e, eu, só tinha 19, portanto, precisava de ter o consentimento deles para me casar. No entanto, resta-me acrescentar que essa autorização já me tinha sido dada quando resolvemos casar pelo civil (por procuração) para que ele usufruísse de um subsídio, ainda antes de ter aparecido a ideia duma nova comissão. Aos meus Pais deve ter-lhes passado pela cabeça que esse casamento fazia parte duma estratégia, mas não... tudo teve a ver com o tal Karma/Destino. Quando decidi que, uma vez que ele não vinha, o melhor era eu ir lá ter, os meus Pais concordaram desde que me casasse pela Igreja antes de ir, não fosse eu cometer um grande pecado... Também é preciso referir que, naquela época, eu acreditava que só estando casada pela Igreja me sentiria casada. O meu “marido” ainda alvitrou a ideia de nos casarmos à chegada (tinha pedido ao capelão da Marinha para o fazer), mas os meus Pais acharam que isso era pedir de mais... O que eles devem ter aturado e sofrido! Apesar de maior, por via do casamento, os meus Pais mantinham uma certa ascendência sobre a minha vontade e não me deixaram ir embora sem ser realmente casada e não achei a força suficiente para os contrariar pelo muito Amor que lhes tinha e me tinham. Se fosse hoje...
Lá nos casámos, cada um para seu lado, eu na Igreja de São João de Deus em Lisboa e, ele, algures em Goa. Olhando para as fotos, vejo uma muito jovem noiva que mais parecia estar a fazer a comunhão solene! A cerimónia e a festa que se seguiu em casa, foi, apesar de tudo, alegre e, ao mesmo tempo, estranha e diferente, visto, no fim, ter ficado em casa sem o meu par! Recebi o carinho de toda a minha família e amigos que me acompanharam sem reservas naquela loucura. Já prometi a mim mesma que, na próxima encarnação, não me vou casar sem ter o noivo por perto. Para compensar, e se lá chegarmos, tencionamos re-casar quando fizermos 50 anos. Um bom propósito, não acham?
Esperei cerca de quinze dias para poder embarcar e partir de avião (não era ainda muito vulgar este meio de transporte) para aterrar no Aeroporto de Pangim em meados de Abril. A longuíssima viagem, fez-se sem sobressaltos, parando em vários sítios para reabastecimento. Passámos por Malta, Beirute (na altura, considerada a Paris do Oriente), Damasco, Bareihn e, por fim, Goa. Trinta e seis horas depois, lá estava o meu, agora, verdadeiro marido, à minha espera. Desci as escadas, meio atordoada e, se calhar, nervosa e o primeiro choque deu-se com a diferença de temperatura. O calor, a húmidade terríveis e a diferença horária fizeram com que percebesse que estava no outro lado do mundo. A emoção da chegada e do encontro fez com que esse mundo novo me agradasse, apesar de tudo. O que se passou durante a nossa permanência naquelas terras a partir desse memorável momento, contou com algumas peripécias que nada têm a ver com uma lua-de-mel nas Caraíbas.... Essa parte fica para a próxima.
Fiquem bem!

Comentários

Aldina Duarte disse…
Obrigada por mais esta história entre mil uma igualmente encantadoras!

Beijinhos e um grande abraço...
Aldina Duarte disse…
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Maria Emília disse…
Estranho... Não me lembro de ter tirado nehuma postagem, a não ser que o tenha feito por engano. Afinal, sou uma apredniza de Blogs!

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