PARAGEM NO TEMPO

Acordei relativamente cedo, mas fiz um esforço para dormir até perto das sete porque tinha tido uma noite bastante agitada, talvez pelo cansaço e porque o barulho da ventoinha por cima de mim me incomodava. Quando o marido da minha amiga veio bater-me à porta para irmos tomar o pequeno almoço, soube que ela estava cheia de febre. Resolvemos que o melhor seria levá-la ao médico para cortar o mal pela raiz. Depois do pequeno-almoço, contratámos um táxi que nos levou ao pseudo hospital de Rishikesh. O motorista levou-nos directamente a uma médica que a medicou com os comprimidos suficientes para aquele dia, com ordens para lá voltarmos no dia seguinte. Não é como cá que passam receitas e, depois, ficamos com as caixas cheias de pílulas; lá dão os comprimidos suficientes para o tratamento e pronto!
Passámos a manhã toda na conversa, fazendo companhia à doente. Almocei com o marido (a doentinha só queria fruta) e a seguir fomos dar uma volta até ao outro lado da ponte (vide foto acima) para comprar a dita fruta. Pelo caminho, passámos por filas de pedintes, uns leprosos, outros velhos e por muita gente a caminho dos templos e dos banhos no Ganges. Havia uns fotógrafos ambulantes que iam fotografando pessoas que faziam a sua pose no meio da ponte. Muito engraçado analisar e apreciar os costumes.
Voltámos ao hotel e a fruta foi servida. Estava ela a comer muito descansada, quando o marido, de repente, diz: “Está um macaco à porta da casa de banho!!!...”; pensei que ele estivesse a gozar, mas quando me virei naquela direcção... não é que estava mesmo?... Ficámos sem saber o que fazer, um pouco assustados pois o macaco era bem grande e via-se que vinha à pesca da fruta. A solução encontrada foi atirarmos uma banana para a casa de banho e, logo que ele correu para a apanhar, fechámos a porta. O pior é que ele não saía de lá nem por decreto! Lembrei-me, então, de atirar umas cascas para fora da janela e aí ele saltou lá para fora e nessa altura pudemos fechar as janelas da casa de banho. As janelas dos quartos tinham grades já para prevenir estes acontecimentos. Os macacos andavam por todo o lado com grande à vontade. Quando voltei para o meu quarto, lá estava o macaco com um amigo catando-se um ao outro alegremente no parapeito da janela do corredor. Os animais, como são protegidos, tomam conta dos espaços e não se preocupam com os humanos. Quando estivemos em Agra, havia uma aldeia perto com uma grande extensão de terreno que é conhecida pelo santuário dos pássaros que, no Inverno, vêm da Rússia e por lá permanecem. Dizem que é um espectáculo digno de ser visto.
A doença da minha amiga, fez com que se desse um interregno nas nossas andanças e eu confesso que me soube bem; de repente, parece que o tempo parou, ou deixou de contar e passou a haver espaço para estar a ler, para escrever ou, simplesmente, descansar. As doenças têm a sua razão de ser... Estive a ler até quase às seis e depois fomos dar uma volta antes do jantar. Estava uma temperatura agradável e lá fomos metendo o nariz nas lojecas que havia pelo caminho. Fomos andando em direcção a Rishikesh até chegarmos a um sítio de onde se avistavam as montanhas (estávamos no sopé do Himalaia) e um imenso vale com uma plantação de arroz. Os tons de verde eram variados, uma beleza; os grilos e os ralos cantavam ao desafio. Votámos ao hotel a horas de jantar. Por sugestão do Ramu (o criado faz-tudo) escolhemos comida chinesa, considerada o máximo do apuro no hotel. No fim tomámos um café do melhorzinho que havíamos bebido até à data.
Antes de voltar para a minha alcova ainda estivemos reunidos no quarto deles (não havia sala de convívio), todos a ler coisas sobre a Índia para ficarmos com a lição bem estudada. No dia seguinte teríamos de voltar à médica e, como ela estava bastante melhor pudemos começar a planear as visitas aos Ashrams do sítio, mas isso é outra estória.

Fiquem bem!

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