RUMO À OUTRA COSTA - MOÇAMBIQUE

Praia da Polana


Como lhes tinha dito, as saudades começaram a apertar e, por isso, começámos a procurar soluções que nos fossem acessíveis e convenientes para as mitigar. O navio onde o meu marido estava embarcado, a Fragata “Pacheco Pereira”, patrulhava a costa de Moçambique durante dois meses e ficava outros tantos em Lourenço Marques. A ideia mais prática seria eu ir lá passar esses dois meses. O problema que se punha era as crianças, quatro ainda muito pequenas. Por muito que me custasse não podia ir com todas e muito menos sozinha. Acabámos por decidir levar a mais nova, ainda bebé, que o Pai não conhecia e o nosso segundo filho. O mais velho estava a fazer um tratamento para problemas de sinusite e a irmã acompanhou-o. Decisões difíceis de tomar como devem calcular. Calculando que a separação seria de curta duração, a partida fez-se com grande saudade, mas sem problema. Estavam bem entregues aos meus Pais, por isso, fui descansada.
Agora tenho de vos dizer que a minha viagem foi feita em navio de passageiros, o navio “Pátria” que, também, transportava tropas. Era a única maneira de chegar ao destino previsto. Felizmente, não enjoo e as crianças portaram-se muito bem. A sua simpatia conquistou os meus companheiros de viagem que me ajudavam na tarefa de cuidar deles durante os 19 dias que ela durou.
Pensava eu que iria ficar aqueles dois meses numa pensão, mas fui surpreendida, à chegada, pela notícia de que, afinal, nos tinham arranjado uma casa com umas parcas mobílias emprestadas por uma prima que vim a conhecer. Essa casa era num 3º andar, sem elevador, sem frigorífico, sem muitas outras coisas que, normalmente, se usam numa casa… Eu tinha cama, o meu marido dormia num colchão no chão, ao meu filho coube um chamado “burro”, cama de campanha e a bebé habitava um parque com um colchão onde passava os dias e as noites. A mesa onde comíamos e onde passava a ferro, era uma mesa de sala do consultório do Pai da minha prima. Cortinas? Nem vê-las, mas como estávamos no último andar só tínhamos de pôr uns cobertores nas janelas para fazer escuro. Tive que dar o meu melhor para fazer daquilo um lugar acolhedor. Com pouco se faz muito!
Entretanto, fiquei a saber que a guerra havia começado, também, em Moçambique, embora fosse só no Norte. Confesso que, quando estava sozinha à noite, dava conta de todos os ruídos e passei muitas em estado de vigília. Felizmente, nunca se passou nada e lá fomos fazendo a nossa vida o melhor que podíamos. Conhecer os meus primos foi muito agradável. A minha Tia, irmã da minha Mãe, foi para Moçambique enquanto o resto da família se ficou por Angola, por isso, não os conhecíamos. A minha Mãe só voltou a ver aquela irmã, depois da independência, quando ela teve de vir para Portugal. Ter família foi muito importante para nós e, principalmente, para mim que vivia numas condições precárias e cheia de saudades dos meus filhos e Pais. As relações sociais, próprias destas andanças, não me atraíam por aí além, embora tivesse conhecido pessoas muito simpáticas com quem estabelecemos amizade duradoira.
A vida corria sem sobressaltos, apesar das circunstâncias. Frequentávamos as praias das redondezas e tornámo-nos visitas assíduas de casa dos Pais duma Amiga que, para estudar em Lisboa, vivia na casa dos meus Pais. Esse casal acabou por se tornar outra extensão da família. Sempre os Anjos a darem a sua ajuda…
Nós fomos para passar dois meses, não foi o que eu disse? Bem, o Karma determinou outra coisa e acabámos por ficar quase quatro anos!!! Mas, isso é o que vos contarei a seguir….
Fiquem bem!

Comentários

Aldina Duarte disse…
Grande aventura! Há qualquer coisa de ciganos na vossa vivência familiar,no sentido da altivez e nobreza tão próprias da natureza mais antiga destas raaçs nómadas!Eu particularmente sou uma aventureira em sonhos, na prática quando encontro o meu lugar fico por lá "eternamente", até eventualmente deixar de fazer sentido.

Somos o simétrico uma da outra, ou seja, Caranguejo(último dia)com ascendente Leão eu sonho com as aventuras que são realidade da Maria Emília Leão com ascendente Caranguejo... não conheço nada de astrologia, mas acho interessante algumas abordagens dessa matéria!
Maria Emília disse…
Somos "ciganos" até na maneira de ser. Quando algum de nós está mal logo vêm todos acudir. Uma estrutura muito estabelecida que nos permite jogar com o destino. Às vezes, é cansativo, mas pode ser altamente estimulante! São Karmas e Karma não se discute... cumpre-se o melhor que se pode e e sabe.
Cá esperamos o seu novo sucesso
Beijos
Aldina Duarte disse…
Gostava muito duma explicação sua sobre o Karma... não sei, francamente o que é ( para além de destino!), como se manifesta e/ou identifica o Karma?

mil beijinhos dentro do abraço maria Emília:-)

Obrigada querida amiga!
Maria Emília disse…
Pode consultar o meu livro. Lá está um capítulo em que explico o que é. A palavra Karma quer dizer acção e reacção o que dá origem a um destino pois trazemos karma do passado e, de acordo com a nossa atitude perante ele, criamos um karma de futuro.

Beijos
Aldina Duarte disse…
Obrigada! E como identificar o que é ou não Karma?

este assunto deve ter pano para mangas!?

beijos!
Maria Emília disse…
Olá,

Percebe-se que é Karma quando não encontramos uma justificação lógica para o que estamos a viver, seja bom ou mau, ou que não temos consciência de ter feito nada para que nos aconteça o que está a acontecer. Também pode ser Karma, no sentido de destino, sermos "escolhidos" para um trabalho ou missão específicos.
Depois há informações que nos chegam por vias mais subtis que vamos explorando à medida das necessidades e para as quais estamos preparados para saber...
Um assunto que não tem fim!
Um abraços

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