OUTRA VEZ CARDIFF

Gostava que soubessem que os relatos que vou fazendo das minhas aventuras ióguicas, têm uma componente de precisão porque os tenho baseado em escritos em que expressava o que ia sentindo ou com a própria descrição do que vivia, como num diário. Os meus apontamentos, embora sucintos, têm o conteúdo principal dos acontecimentos e até tenho achado uma certa graça relê-los e deixar que venham ao de cima as emoções então vividas. Tenho aproveitado para pôr alguma papelada em dia, guardando o essencial. Não me considero uma pessoa ordenada, mas tenho um sentido organizacional que me permite ir ao encontro daquilo que, na altura, me faz falta. Ao longo da existência foram-se perdendo registos e a memória é o que é... nem sempre a mais verdadeira. Quando descrevemos factos e sentimentos perto dos acontecimentos é natural que a verdade fique, apesar de tudo, mais próxima da realidade.
Ontem, por exemplo, dei de caras com duas cartas para a família em que descrevia a viagem que nos levou à 2ª formação que foi numa cidade muito perto de Cardiff. Como lhes disse no capítulo anterior, o contacto com as pessoas do primeiro curso abriu-nos horizontes, dando-nos informações preciosas e, foi assim que fomos parar outra vez ao País de Gales, mais precisamente na “Glamorgan Summer School” em Barry onde ficámos, a minha amiga e eu, durante 15 dias. A viagem até Londres voltou a ser complicada por ter apanhado outra greve, desta vez dos agulheiros do céu franceses o que nos obrigou a sobrevoar o Atlântico mais que uma vez até chegarmos a Heathrow. A minha amiga já estava em Londres e lá me encontrei com ela para voltarmos a apanhar o combóio para Cardiff e duas horas depois apanhámos um autocarro para o local do curso. Ficámos bem instaladas e, embora o sítio não fosse tão espectacular como o do ano anterior não deixávamos de ter uma bela vista para o mar. Nesta escola funcionavam vários cursos de Verão, por isso só no dia seguinte é que entrámos em contacto com os nossos colegas do Yoga quando houve a apresentação. Este curso era essencialmente para professores de Yoga ou candidatos ao título. Os nossos professores eram muito simpáticos e de grande eficiência, fazendo-nos trabalhar no duro. Como foram 15 dias havia mais tempo para folgar e conviver e ainda aproveitámos uma excursão a Cardiff que é uma cidade muito agradável, como são agradáveis os seus habitantes; os galeses são mais dados que os ingleses. Sempre que podíamos dávamos uma volta pelas redondezas, admirando os belos jardins das casas da zona. Aproveitámos ao máximo e, felizmente, fomos cumprimentadas pela boa figura que estávamos a fazer e, numa noticia que saiu na revista “Yoga Today” lá falavam em nós dizendo que tínhamos dito que havíamos considerado ter valido a pena ter feito a viagem para participar numa formação que no nosso país não existia. Os professores: Ken Thompson e Philip Jones da organização “British Wheel of Yoga” de que já vos falei. Qualquer deles proporcionaram-nos ensinamentos valiosos. O primeiro usa a “Técnica de Alexander” que uso até hoje na nossa aulas, e o segundo deu-nos lições extraordinárias sobre respiração pois tinha só um pulmão e os exercícios respiratórios do Yoga (“Pranayama”) tinham sido para ele uma grande ajuda. Os ingleses são muito rigorosos na formação de professores e posso dizer-lhes que, à conta disso, tivemos um dia a visita de um inspector do Ministério da Educação que nos acompanhou todo o dia para ver se o que estava a ser ministrado correspondia ao que vinha no programa. Um senhor muito simpático que, também, nos deu algumas dicas sobre técnicas de ensino.
De regresso a Londres ainda tivemos tempo de fazer algumas compras para levar à família e assistir a uma sessão de teatro (infelizmente esse registo não tenho...), o que passou a ser um ritual sempre lá fomos fazer cursos. Voltámos a Lisboa muito satisfeitas e com as forças bem retemperadas, para além do grande entusiasmo em continuar a nossa senda como professoras de Yoga e, principalmente, praticantes em toda a linha. Entretanto tinha deixado a sala dos Olivais e, em Janeiro de 1978, começado a dar aulas no Clube Atlético de Alvalade (Lisboa) e, em Almada numa sala de empréstimo. Como isso aconteceu é o que vos contarei no próximo capítulo.
Fiquem bem.

Comentários

Aldina Duarte disse…
Não sei se uma breve explicação sobre a Técnica de Alexandre será possível, mas fiquei muito curiosa! ´Continuo maravilhada a "acompanhá-la" nesta viagem "pós-tempo"... beijinhos
Maria Emília disse…
TÉCNICA DE ALEXANDER

Frederick Mathias Alexander, nasceu no norte da Austrália nos finais do século dezanove. Fez carreira como declamador com algum sucesso, apesar dos problemas que tinha na voz e alguma falta de vitalidade; sempre pensou que estes problemas tinham a ver com o mau uso que fazia dos seus órgãos vocais (nesse tempo não havia estudo sobre a voz ou a sua colocação). Procurou encontrar um método que o ajudasse a resolver aquele problema. A técnica que desenvolveu é, em termos práticos, saber usar o corpo de maneira a não lhe provocar dano, seja a sentar, estar de pé ou ficar deitado. Os seus problemas de voz levaram-no a pôr-se em frente ao espelho para perceber que músculos funcionavam quando ele estava a falar e descobriu que tinha uma tendência para colocar tensão nos músculos à volta do pescoço e, a partir daí fez salientar as tensões mais localizadas e criou exercícios simples que o ajudaram a melhorar a sua voz. A posição da cabeça é um factor primordial para que não haja distorções na coluna e pressão nas cordas vocais. O método para corrigir as posturas e os movimentos corporais que ele desenvolveu passou a chamar-se “The Alexander Principle” ou, em Português “Técnica de Alexander”. Foram os seus discípulos que conseguiram codificar o método visto que ele nunca se deu ao trabalho para o fazer, embora se tivesse tornado professor, tanto em Inglaterra como no EUA. Era conhecido por ser irascível em termos de comportamento e, talvez, por isso, não foi realmente muito bem sucedido na vida, apesar do seu método ter chegado até aos dias de hoje como uma utilidade no campo físico e vital.
Estas ideias aplicamos nós nas aulas de forma implicita.

Beijinhos

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