GRANDE AVENTURA

Agora é que é!!! Passo a contar-vos a grande aventura que foi chegar a este Ashram, aproveitando o diário de que vos falei. O relato fica, assim, mais rico. Se calhar este episódio da nossa viagem terá dois capítulos... Animem-se!
Deixámos o Hotel às 10.30 h, para apanhar o autocarro 253 para Andheri, onde fomos encontrar um mar de lama e de gente... (é bom que saibam que na altura em que fomos a monção ainda andava por lá e as chuvadas eram uma constante). Carregadas como nós íamos, não dava para ter o moral muito elevado, sobretudo eu, confesso. Apanhámos o combóio com destino a Vasai Road, aonde chegámos ¾ de hora depois. Chovia bastante e o moral desceu mais uns degraus quando mergulhámos num novo mar de lama avermelhada (a outra era sobre o preto...). Chegou o autocarro, a cair aos bocados, e lá entrámos com a maralha toda. Dois minutos depois, voltámos a sair porque a geringonça não andava... Feita a mudança com a ajuda dum cavalheiro providencial, lá nos pusemos a caminho para mais uma tirada. A estrada era alcatroada, o que quer dizer boa nestas paragens.
Pelo caminho, miséria e só miséria, no meio de uma bela paisagem e mais lama em Ganeshpuri... Lá demos com o Ashram que, diga-se de passagem, é praticamente o que existe neste sítio, sendo o resto por causa dele. Recebeu-nos um francês, vestido de branco, com cabeça rapada. Muito simpático, disse-nos para irmos ao estaminé (espécie de cantina) da frente para tomarmos qualquer coisa visto que só às duas horas estaria a pessoa indicada para nos atender. O dito estaminé era relativamente limpo e não comemos muito mal. Quando voltámos, recebeu-nos um de cabeça rapadíssima, canadiano de origem e um outro que se apresentou como Govinda. O canadiano levou-nos ao escritório onde nos deu as instruções para que pudéssemos permanecer no Ashram e também nos emprestou livros sobre meditação e cânticos. Para ficarem com uma ideia, aqui vos mostro o esquema:

03.00 - abertura do Templo.
03.30 - alvorada ao som de conchas.
04.20 - Arati matinal (cânticos de pé.)
05.00 - nova alvorada e chá.*
05.30 - Recitação do Guru Gita.
07.00 - chá (chegar 10 m antes).
08.00 até às 10.00 – Guru Seva (trabalhos obrigatórios para os que vivem no Ashram. É o chamado Karma Yoga ou serviço comunitário. Nós estávamos dispensadas por só ficarmos um fim de semana).
11.30 - cânticos do meio dia (chegar 5 minutos antes).
12.00 - almoço.
13.00 - descanso e silêncio até às 15.00 h.
15.30 - Novos trabalhos até às 17.30
18.10 - Arati da tarde.
18.45 - jantar.
19.30 - nova recitação de Mantras até às 20.30 h.
21.15 - silêncio e luzes apagadas.
* - aqui já era connosco.

Alguns exemplos de outras regras:

Andar descalço dentro dos edifícios; sentar de pernas cruzadas; não tocar em ninguém ou nos objectos sagrados (os livros de culto também são considerados sagrados); os homens e as mulheres não se podem tocar dentro ou perto do Ashram e os homens não podem entrar na zona das mulheres; usar roupas simples e discretas e as senhoras devem tapar os ombros e as pernas; chegar a horas e comer em silêncio; comer com a mão direita pois a esquerda é usada para a higiene íntima; não desperdiçar comida; poupar água e luz; manter o quarto arrumado e limpo, considerando-o como um espapaço de repouso e silêncio, etc., etc., etc..
Não me alongo mais nestas considerações pois acho que já perceberam que um Ashram é tal e qual um convento cristão. E, assim, começou uma das experiências mais fortes que tivemos na nossa senda. No próximo capítulo vos contarei como correu.
Fiquem bem!

Comentários

Aldina Duarte disse…
Ninguém, muito menos um ocidental, retorna à sua terra natal igual ao que era antes de partir para um país destes e para um lugar como este?! Realmente, sempre leio, e tendo em conta as épocas, concluo que a Maria Emília é uma pioneira mas muito, como dizer, iluminada e/ou amparada em toda esta aventura chamada A Vida duma Mulher, Maria Enília! até o facto de ter companhia para uma experiência destas, hoje em dia é difícil ter a companhia de amigos para fazer férias "normais" em situios "normais", etc., quanto mais amigos e maridos que a meio decidem ir matar saudades... que pessoas estupendas! Confesso, que me comovo com tanto empenho e determinação e solidariedade!

beijos e obrigada por me fazer crer no melhor de todos nós!

beijinhos!
Maria Emília disse…
De facto naquele tempo havia uma disponibilidade e uma curiosidade muito grandes e o espírito de aventura reinava em toda a força. Quando a vontade é grande não há ninguém que nos impeça de avançar para o que temos de fazer, um impulso irresístivel que nos leva a viver experiências que estão ao nosso alcance. Tenho tido a sorte e o privilégio de ter pessoas a alinharem comigo tanto quanto alinho com elas.
Um abraço

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