OS TEMPLOS GRUTA


A razão desta visita prendeu-se no interesse que estas grutas templo têm. Na Índia são muito comuns, contando-se quase 1200. Estas escavações não foram feitas a partir de grutas naturais. As rochas foram esculpidas de cima para baixo com ferramentas primitivas e a partir de planos feitos à partida. Os Budistas foram os primeiros a fazê-las. Os templos consistiam em duas zonas demarcadas: o templo propriamente dito e a zona residencial dos monges. As Grutas de Ellora são produto de três religiões: Budista, Bramanista e Jainista e contêm esculturas de deuses deusas representativas da sua fé.

Chegámos ao Hotel Aurangabad Ashok onde ficámos muito bem instalados, se compararmos com as experiências anteriores. A janela do meu quarto dava para o jardim e, ao fundo, avistavam-se as montanhas. Depois dum rico banho e pequeno- almoço razoável, lá me enchi de coragem para resistir à tentação de mergulhar nos lençóis. Fomos até à “cidade”, se é que se pode chamar cidade a um amontoado de barracas, para explorar as fábricas das sedas que constitui uma das atracções turísticas do sítio. Pedintes que se colam a nós como moscas, tudo de uma grande pobreza. Uma das tais fábricas era um verdadeiro buraco onde um velho caquéctico manejava um tear do tempo da pedra lascada. Tecia seda misturada com algodão com desenhos complicadíssimos, alguns giros, mas não muito ao gosto ocidental. Não comprámos nada por serem bastante caros, apesar do valor daquele trabalho. Ainda comprámos umas pulseiras feitas de bronze e zinco, cravadas com fios de prata, uma recordação apenas.

A certa altura, vimos um grande grupo de gente a cantar que transportava um andor coberto com flores. Percebemos, de imediato, que se tratava dum enterro pois no andor ia um cadáver todo embrulhado, mas com a cara de fora!!! As pessoas, possivelmente familiares e amigas, iam deitando flores para cima do morto, enquanto seguiam para o local da cremação. Uma imagem macabra e, para nós, estranha. No entanto a forma como se desenvolvia a cena não se tornou chocante. Dá para perceber que aquele povo acredita noutra vida.

Almoçámos no hotel porque, fora dele era impossível encontrar alguma coisa de jeito. Duas horas depois, o táxi que alugámos, levou-nos a passar a tarde mais agradável que se possa imaginar, talvez das melhores que passámos na Índia até ali. Fomos, então, visitar as Grutas de Ellora que ficam a cerca de 30 km de Aurangabad. O tempo estava convidativo e o local onde se encontram as grutas era uma beleza. As grutas ficam no sopé dum monte, viradas a sudoeste e com um vale imenso em frente, muito arborizado (mangueiras e outras árvores). As grutas esculpidas na rocha dão ao lugar uma atmosfera sobrenatural. Separei-me do casal e comecei a explorar calmamente, todas as grutas que me pareceram interessantes. As primeiras 12 são Budistas, por isso, estão repletas de imagens de Buda, algumas descomunais. Realmente é fantástico como conseguiram fazer aquilo com ferramentas tão rudimentares, muita paciência e bastante tempo. Ao chegar às últimas, deparei com uma data de macacos em cima duma árvore; deixaram-se observar sem problema nenhum e até se deixaram fotografar. Soube-me muito bem estar ali em comunhão com a natureza. A certa altura, um dos guardas veio ter comigo e meteu conversa comigo – uma coisa que acontecia com frequência pelo facto de não ter par – e começou a pedir-me esferográficas para os filhos levarem para a escola (um pedido muito comum na Índia). Depois mostrou-me pedras dali, ametistas e ágatas. Vendeu-me um coração amarelo para pendurar no fio e deu-me outro verde como presente. Fez-me imensas perguntas, quantos anos tinha, quem eram aquelas pessoas que estavam comigo, de que país era, etc. Arranjei um amigo! Os guardas das grutas funcionam como cicerones, explicando as coisas naquele inglês do costume, e apontando um espelho de zinco como reflector para iluminar as figuras. Ainda visitámos as grutas Hindus e Jain.

De regresso ao hotel, ainda visitámos uma aldeia onde se encontra o túmulo do Imperador Aurangzeb, que deu o nome ao sítio. Abastecidos de frutas pelo caminho, fizemos o nosso jantar no meu quarto. Feito o repasto, demos uma volta pelas lojas do hotel onde deixámos mais umas rupiazitas na compra de umas saias e umas blusas, mais uma caixa de cigarros para dar ao meu marido.

Um dia cheio de emoções que me acalmaram angústias interiores que, de vez em quando, se instalavam no peito e na mente. Apesar do espírito de aventura é preciso não esquecer que, me custava não ter par. O meu marido ainda estava bem longe destas vivências ióguicas e, sempre ouvi dizer que “dois é bom, três é demais…”, sem contar, é claro, com as saudades de casa e dos filhos. Naquele tempo e naquela terra, não havia facilidade de comunicação como há agora. Só por telefone fixo podíamos contactar com Lisboa e, mesmos assim, era preciso contar com a grande diferença de horas.

No dia seguinte fomos numa excursão até às Grutas de Ajanta. A viagem foi um bocado maçadora e longa. Estas grutas ficam na garganta dum rio e, como as outras, no sopé duma montanha. Antes de lá chegarmos, parámos num miradouro para termos uma ideia da sensação que tiveram os caçadores ingleses quando chegaram ali à beira daquela ravina e depararam com a entrada para o Templo Gruta. Um vista linda de morrer!!! A parte chata de sempre, são os vendedores de colares e ametistas que se pegam como lapas. Estas grutas são consideradas mais importantes do que as de Ellora pois têm uns frescos, relativamente bem conservados, são mais antigas e todas Budistas. O problema da conservação dos frescos foi o facto de, embora tenham sido descobertos em 1819, só em 1920 lhes foi dada importância eram consideradas monumento nacional, e sendo a gruta usada pelos pastores como refúgio nocturno, as fogueiras que faziam queimaram muitas das pinturas. Desta vez tivemos um guia do Governo que falava bem inglês felizmente. Com o livro que comprei sobre o assunto, fiquei com uma boa ideia daquela maravilha. Na volta calhou ficar ao pé de mim um rapaz dum certo nível cultural com quem mantive uma agradável conversa que me pôs a par de usos e costumes. Jantámos noutro hotel e, cama com eles pois no dia seguinte seguimos de avião para Jaipur, a nossa próxima paragem. Ir de avião, depois das andanças de comboio e autocarro, um verdadeiro luxo! Já lhes conto.

Fiquem bem.

Comentários

Aldina Duarte disse…
Um dia destes tenho mesmo de visitar umas grutas; não direi as maravilhosas que estão descritas, para já, mas umas mais acessíveis, mesmo cá em portugal... Deve ser uma emoção muito diferente das que já conheço?

beijos e muito obrigada pelo seu belissímo soneto editado no Blog do meu Site!

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