MIL E UMA VIDAS II



Continuando…
Entretanto, tive um apelo irresistível do meu, então, namorado/noivo, e agarrei nas malinhas, apanhei um avião e desembarquei em Pangim (Goa), depois de um casamento por procuração que, naqueles tempos não dava para nos juntarmos sem as bênçãos da Santa Madre Igreja ou de um Conservador do Registo Civil!!!
Os primeiros tempos não foram muito fáceis pois estranhei o clima quente e húmido, e tive de enfrentar os trabalhos domésticos a que não estava, minimamente, habituada, menina burguesa de primeira apanha. Começava o dia a estudar o meu livro de receitas predilecto (até hoje), e a encontrar no mercado os ingredientes que se adaptassem ás minhas escolhas. Felizmente, tinha gosto pela cozinha e alguma coisa tinha aprendido com a cozinheira que trabalhava em casa dos meus Pais. Mesmo assim, valeram-me as vizinhas tailandesas que me ensinaram a escamar peixe… As fardas brancas do meu marido (ele é oficial de marinha), treinaram a minha paciência! Passar a ferro não é, propriamente, a minha praia.
A vida seguia sem grandes sobressaltos e a convivência com as mulheres de outros oficiais dava para aliviar as saudades da família, com quem me correspondia por carta que, naquele tempo, não havia outra maneira. Algumas amizades perduram até hoje.
Quando o meu marido foi destacado para Diu, lá fui eu de malas aviadas outra vez. A estadia naquele território foi engraçada e dei-me muito melhor com o clima, mais temperado, apesar de termos apanhado o começo da monção que é qualquer coisa de fenomenal. De repente, desata a chover torrencialmente e, de um momento para o outro, os campos viram verdejantes! Convivíamos, principalmente, com oficiais do exército que lá estavam sozinhos e, posso dizer que os meus ouvidos se treinaram na linguagem própria das casernas… A única senhora europeia era a mulher do Governador que tinha uma idade bastante mais avançada, por isso, só nos dávamos em ocasiões cerimoniosas.
Quando regressámos a Goa, já vinha grávida do meu filho mais velho que veio a nascer em Lisboa por considerarmos que ali não havia condições para eu ter o bebé, tanto a nível de assistência médica como de apoio da família, visto que o meu marido estava sempre sujeito a ser mandado para outro lado ou a embarcar em algum navio. Isto passou-se em 1960, época em que havia a guerra com a União Indiana, em luta pela independência daquela colónia, não era uma estadia turística…
De volta à pátria, sozinha, instalei-me em casa dos meus Pais e o nosso filho nasceu sem ter o pai por perto. Valeu-me, como sempre, o apoio e carinho da família e a tal cozinheira que adoptei como 2ª mãe e avó dos meus filhos. O meu marido conheceu o filho já com 7 meses e fomos viver para uma casa que era dos meus sogros, onde veio a nascer o meu segundo filho. Quando fiquei grávida do terceiro(a) tivemos de mudar de casa pois naquela já não cabíamos.
Por hoje, chega de Vidas…
Fiquem bem

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