UMA CASA CHEIA



Os que me têm acompanhado neste desfilar de memórias, já devem ter percebido que a minha vida é como uma casa cheia. Comecei por nascer numa família que se foi reproduzindo sem preconceitos ou demasiada programação. Os meus Pais tiveram quatro filhos (infelizmente, um morreu bébé) que, por sua vez se multiplicaram até aos treze netos que vieram a dar fruto, sendo que se contam, até agora 30 e, em breve, 31 bisnetos!!!
Enquanto a minha Mãe foi viva, e a conta de bisnetos não estava tão avançada, conseguíamos reunir-nos no Natal em casa do meu irmão (no último que lá passámos seríamos umas sessenta pessoas). A minha Mãe fazia muita questão nessa reunião de família, mas o grupo começava a pesar aos hospedeiros, apesar da boa vontade e do espaço ser, apesar de tudo, bastante. Quando a minha Mãe passou para outra dimensão, livre do corpo que já lhe pesava, decidimos que era altura de cada um ficar na sua própria casa, o que vem acontecendo desde então. Agora encontramo-nos mais espaçadamente e em ocasiões em que se celebram acontecimentos particulares (casamentos, baptizados, etc.), acompanhando-nos uns aos outros dentro do possível.
Quando me entreguei ao projecto “Satsanga”, levei comigo o mesmo ideal de família e, assim, esta casa, também, está sempre cheia com todos aqueles que dela se aproximam, seja para umas aulas de Yoga, seja para uma conversa a sós ou, simplesmente, para partilharem alegrias ou preocupações. Foram chegando a pouco e pouco, aproximando-se do núcleo central, e muitos fizeram daquele espaço a sua Casa, à medida que se iam sentindo identificados com a vibração reinante. Acabei por criar outra família, de natureza espiritual, que tem vindo a crescer e a desenvolver-se em liberdade, com a segurança que dá a sensação de pertença. Criei os meus filhos, dando-lhes o sentido da responsabilidade, no gozo da liberdade que essa atitude pressupõe. Na família “Satsanga”, como alguns já lhe chamam, o espírito é o mesmo. Cada um que chega, e se sente tão confortável como uma peça de puzzle que encaixa no seu lugar, não obedece a regras nem se faz seguidor; as regras são aceites por se acharem justas e próprias para uma ordem conveniente e ninguém “segue” ninguém porque, simplesmente, caminhamos lado a lado, sabendo cumprir dentro do que a cada um cabe cumprir. Ao longo dos anos fui dando a perceber que, o ideal é que cada Ser saiba o que quer e o que vale dentro duma comunidade e, quando se dá o respectivo valor às competências, tudo funciona na perfeição. Os que mandam, mandam quando é esse o seu papel e os que recebem instruções sabem que a humildade é fundamental, humildade que nada tem a ver com submissão, é bom que se entenda. A autoridade é reconhecida e, naturalmente, aceite pois a ordem é fundamental em qualquer sociedade.
A minha vida é uma casa cheia de energia que sinto mesmo quando estou só. A presença dos que me marcaram e dos que me acompanham, é indelével! A ligação espiritual é qualquer coisa de formidável, mesmo transcendente e não tem que ver com relações de natureza emocional. Muitos dos que contribuíram para que a minha vida fosse uma casa cheia, já cá não “moram” fisicamente, no entanto, continuam a ter um lugar no meu coração onde reina o amor incondicional. Como numa casa de família, os filhos crescem e, às vezes, têm de partir para outras paragens. O desapego é um factor primordial para que se consiga continuar em alegria e, sobretudo, liberdade.
Os Deuses que me acompanham, dão-me a segurança que me permite continuar de porta aberta para que o vazio nunca se instale e a Casa continue sempre cheia. Eu, apenas, me entrego e me deixo guiar, pois só assim é possível chegar ao fim da minha passagem pela Terra e dizer: VALEU A PENA!!!
Fiquem bem!

Comentários

Aldina Duarte disse…
Ó se valeu...!!! Beijos de saudades e até ao retorno à porta aberta!


Até sempre!
Manel disse…
E a alegria que é transpôr aquela porta, cada dia igual porque a luz não se apaga, cada dia diferente porque nós mudamos. Obrigada por aquele pequeno espaço, tão amplo de liberdade e amor, e pelos ensinamentos que se desprendem do seu sorriso. Grande beijo.


[Isto de não conseguir manter uma prática regular tem estes resultados, hoje dói-me tudo, eheh. Mas no corpo, que a alma já está mais leve.]
Anónimo disse…
Que saudades dessa familia! Principalmente da minha querida Maria Emilia.Querida,sim!Posso chegar e dizer somente um ´"olá, tudo bem?", mas foram muitas as vezes que me apeteceu abraça-la como se de uma mãe se tratasse. Mas, sou uma má filha, porque digo sempre, para mim propria, que vou voltar no proximo dia e os dias vão passando e eu nao volto, por várias razões, tudo menos espirituais. E faz-me falta a paz, a energia positiva que ai se sente.Procuro respostas, por todo o lado,que possivelmente só alguém com a alma dessa "Mae" me pode dar. Sou uma ovelha tresmalhada, mas com essa familia no coração. Até um dia destes...

Beijo grande

Teresa Mendes

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