CERIMÓNIA (PUJA)

E, assim, fomos avançando na nossa viagem ao tempo de mestres e discípulos, uma etapa que se tornou num prenúncio da minha orientação futura em termos de prática e ensino. Naquela época éramos um tanto ou quanto autodidactas, apesar da frequência dos vários cursos em Inglaterra e País de Gales. A mim faltava-me um método que me permitisse dar um sentido mais consistente à minha maneira de ensinar e viver a própria experiência do Yoga e o contacto com os ensinamentos de Sivananda tornou-se marcante, principalmente, quando comecei a ler os seus escritos e, mais tarde, ao encontrar-me com um grupo dirigido por um dos seus discípulos, o que vos contarei a devido tempo. Rumámos até ao Ashram do mestre Sivananda para assistirmos às cerimónias do Ganesha Puja (louvor ao deus Ganesha), à beira do rio Ganges. Estava um belo dia, segundo me diz o meu diário, a prometer bastante calor. Quando chegámos, ainda estava pouca gente no sítio onde se encontrava uma imagem de Ganesha, considerado o deus da boa sorte. Os sacerdotes preparavam as coisas, ao mesmo tempo que iam cantando lenga-lengas e, pelo meio dando ordens ou dizendo piadas. Entretanto chegou a amiga que tínhamos conhecido na biblioteca na anterior visita e aproveitámos a sua companhia para irmos obtendo algumas explicações sobre o que ali se ia passando. Ela deu-nos a entender que tínhamos tido muita sorte pois aquela cerimónia nem sempre se fazia e, naquele dia, estava a ser feita porque o presidente da Associação partiria no dia seguinte para a Suissa e era uma maneira de lhe desejar boa viagem.
Entretanto, o deus ia sendo lavado com água do Ganges e a seguir deitavam-lhe por cima várias ofertas: leite de coco, bananas, etc. Parte dessas dádivas eram postas de lado e, enquanto elas continuassem a cair, a cantoria e as rezas continuavam; tudo isto se passava com um grande à vontade e muita alegria. Como vimos que a coisa ainda demorava, fomos até ao escritório do Suami principal acompanhados por uma francesa que passava metade do tempo ali e a outra em França. Infelizmente o senhor não estava disponível e por isso voltámos para a cerimónia afim de participar no Arati final e no Prasad, não sem antes termos visitado a livraria para comprar alguns livros que nos foram enviados de barco, o que foi um grande alívio em termos de peso na bagagem.
Esta parte final foi interessante: um rapaz andava com uma lamparina acesa e ia passando pela assistência que passava as mãos pela chama que, depois, levavam à cabeça e à cara num acto simbólico de purificação pelo fogo e, claro, não dispensavam a respectiva esmola como nas nossas missas. No fim houve distribuição de Prasad, que nos pareceu ser semelhante à nossa comunhão. Toda a fruta oferecida tinha sido cortada aos bocados, o mesmo sucedendo com os doces que nunca faltam nestas coisas. Terminada a cerimónia, lavámos as mãos no rio e, pela primeira vez, tirámos os sapatos e molhámos os pés. A água estava muito fresquinha e soube-nos bem. O marido da minha amiga também não resistiu a fazer o mesmo. Tirei-lhe uma fotografia para documentar este facto histórico uma vez que ele é muito picuinhas e não se deixava levar pelas circunstâncias com facilidade, apesar do esforço que fazia para seguir na nossa onda.
Chegada a hora do almoço, fizemo-nos convidados e lá seguimos para o Ashram. A sala tinha duas toalhas compridas postas no chão, homens dum lado, mulheres do outro e, uma vez mais, a comer com as mãos como mandam as regras. Ficámos cheias de curiosidade para assistir à reacção do marido dela que não é, propriamente, especialista a comer sem ser de garfo e faca! Nem nos atrevíamos a olhar para ele não nos fossemos desmanchar a rir. Antes da refeição houve, novamente, cânticos e o almoço lá seguiu de forma muito disciplinada. Havia um chefe de sala que ordenava às mulheres para irem servindo quem quisesse repetir a dose (não podíamos deixar nada no prato, por isso nos punham pouca comida de cada vez). A refeição foi farta, mas não muito saborosa (não usam nem alho, nem cebola que consideram prejudicial à meditação por serem excitantes). Terminado o almoço, fomos saindo em fila indiana até a um grande lavatório onde lavámos as mãos e a loiça, com água e cinza que o sabão, além de não ser ecológico é raro naquelas paragens. Mal chegámos à rua, desatámos a rir com os comentários que ele fez: “Isto foi o máximo, não me apanham noutra!”. Depois do almoço as actividades foram interrompidas para descanso e, por essa razão, marchámos até Rishikesh afim de procurarmos um Suami, mestre dum amigo nosso que tinha mandado uma encomenda. Demorámos a encontrar a casita onde ele morava e dava instrução aos seus discípulos e a que chamava Centro de Yoga; infelizmente não estava ninguém. Um vizinho informou-nos que ele estaria em Nova Deli. Regressámos ao nosso hotel de táxi porque o calor já apertava e estávamos desejosos de por as pernas ao fresco. Tinha sido uma manhã cheia de emoções e coisas novas, precisávamos de digerir todas as informações e sensações.
Seguem mais visitas….

Fiquem bem!

Comentários

Aldina Duarte disse…
Ai que emoção! Quero saber mais desat viagem que determinou a vida de alguém que admiro e em quem tanto confio para aprender o que não posso aprender com mais ninguém!

Beijos!

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